sexta-feira, 20 de setembro de 2013

VISÕES DISTORCIDAS DA CIÊNCIA E DISCURSOS ANTI-CIÊNCIA

Palestra proferida por Tomaz Passamani no 22º Encontro da Nova Consciência na cidade de Campina Grande, Paraíba, Brasil.



Com frequência uma mesma palavra pode ter significados diferentes para pessoas diferentes. Isso gera problemas de comunicação e desentendimentos. Acredito que esse também seja o caso da palavra “ciência”. Acredito que a imensa maioria ou quase totalidade das pessoas têm uma visão distorcida ou ingênua do que é ciência. Acredito que muitas pessoas usam a palavra “ciência” quando não deveriam usar. Acredito que, infelizmente, muitos acadêmicos, doutores e intelectuais não possuem uma visão completa, inteira e imparcial do que é ciência; mas sim possuem uma visão fragmentada, incompleta e parcial. Eu mesmo com certeza tenho uma visão de ciência que não é completa! Precisarei refletir muito ainda sobre a ciência e sobre o processo de se fazer ciência para um dia ter uma visão mais completa e imparcial do que é ciência!
         A minha visão de ciência é muito similar ao próprio método científico! Para mim a ciência é a melhor ferramenta já inventada para entendermos como o mundo funciona! A ciência é uma empreitada colaborativa que atravessa as gerações! Para mim a ciência é um modo de pensar, uma forma de questionar ceticamente a natureza! A ciência substitui o preconceito particular pela evidência publicamente verificável.
         Vamos explanar sobre algumas distorções comuns associadas a ideia de ciência e questionar se essas visões distorcidas poderiam fazer com que pessoas produzissem discursos contra a “ciência”.
         Uma das visões distorcidas de ciência é considerar ciência como sendo um corpo de conhecimentos imutável e produzido apenas na mente de pessoas geniais. O ensino tradicional de ciências e os meios de comunicação de massa são fontes de visões distorcidas da ciência.
         O ensino tradicional de ciências enfatiza sempre o produto final da atividade científica, apresentando-o como dogmático, imutável e desprovido de suas determinações históricas, político-econômicas, ideológicas e socioculturais.
         Realçam sempre um único processo de produção científica, o método empírico-indutivo, em detrimento da apresentação da diversidade de métodos de produção do conhecimento científico. Introduz ou reforça equívocos, estereótipos e mitificações com respeito às concepções de ciência e tecnologia.
         A apresentação da evolução histórica das ciências naturais permite ao estudante perceber que as ciências estão em constante evolução, e que o conhecimento é construído gradativamente.
         Geralmente, nos livros didáticos, o conhecimento científico é apresentado como algo pronto, acabado, no qual o cientista surge como uma figura estereotipada, de cabelos e jalecos brancos, com respostas para todos os problemas, sem dúvidas ou dificuldades no seu trabalho.
         Entretanto, ao lançar um olhar sobre a história da ciência, pode-se perceber o quanto a compreensão da história das ideias pode auxiliar a entendê-las e como a construção do conhecimento é complexa, sem ser livre das mais diferentes interferências.
         A Ciência não tem respostas definitivas para tudo! A principal característica desta é a possibilidade de ser questionada e de se transformar!
         As ciências naturais não devem ser vistas como as ciências dos conceitos e equações já estabelecidas e, por isso, consideradas verdades absolutas.
         Quem afirma que a Ciência deseja e conspira para ser uma verdade absoluta tem grandes chances de ter uma visão distorcida de ciência!
         A história das ciências nos apresenta uma visão a respeito da natureza da pesquisa e do desenvolvimento científico que não costumamos encontrar no estudo didático dos resultados científicos. Os livros científicos didáticos enfatizam os resultados aos quais a ciência chegou mas não costumam apresentar alguns outros aspectos da ciência. De que modo as teorias e os conceitos se desenvolvem? Como os cientistas trabalham?
         Quais as ideias que não aceitamos hoje em dia e que eram aceitas no passado? Quais as relações entre ciência, filosofia, religião e cultura? Qual a relação entre o desenvolvimento do pensamento científico e outros desenvolvimentos históricos que ocorreram na mesma época?
         A história das ciências não pode substituir o ensino comum das ciências, mas pode complementá-lo de várias formas: o estudo adequado de alguns episódios históricos permite compreender as inter-relações entre ciência, tecnologia e sociedade, mostrando que a ciência não é uma caixa isolada de todas as outras mas sim faz parte de um desenvolvimento histórico, de uma cultura, de um mundo humano, sofrendo influências e influenciando por sua vez muitos aspectos da sociedade. Todos conhecem os nomes de Lavoisier, Newton, Galileu, Darwin. Mas o que estava acontecendo no mundo quando eles desenvolveram suas pesquisas? Não existiu nenhuma relação entre o que eles fizeram e aquilo que estava acontecendo em volta deles? É claro que existiu! Mas não costumamos estudar isso, o que resulta na visão distorcida de que a ciência é algo atemporal, que surge de forma mágica e que está à parte de outras atividades humanas.
         O estudo adequado de alguns episódios históricos permite perceber o processo coletivo e gradativo de construção do conhecimento, permitindo formar uma visão mais concreta e correta da real natureza da ciência, seus procedimentos e suas limitações. A ciência não brota pronta, na cabeça de “grandes gênios”. Muitas vezes, as teorias que aceitamos hoje foram propostas de forma confusa, com muitas falhas, sem possuir uma base observável e experimental. Apenas gradualmente as ideias vão sendo aperfeiçoadas, através de debates e críticas, que muitas vezes transformam totalmente os conceitos iniciais. Costumamos dizer que nossa visão do universo, heliocêntrica, foi  proposta por Copérnico no século XVI. No entanto, existe pouca semelhança entre aquilo que aceitamos hoje em dia e aquilo que Copérnico propôs. Também não pensamos como Galileu, por exemplo. A teoria da evolução biológica que aprendemos hoje em dia não é a teoria de Darwin. A aritmética que estudamos atualmente não é a aritmética desenvolvida pelos pitagóricos. Nossa química não é a química de Lavoisier. Nosso conhecimento foi sendo formado lentamente, através de contribuições de muitas pessoas sobre as quais nem ouvimos falar e que tiveram importante papel na discussão e aprimoramento das ideias dos cientistas mais famosos, cujos nomes conhecemos.
         Os estudantes de todos os níveis, seus professores e o público em geral possuem uma grande variedade de concepções ingênuas, mal fundamentadas e, afinal, falsas sobre a natureza das ciências e sua relação com a sociedade. Alguns concebem a ciência como a “verdade”, “aquilo que foi provado”, algo imutável, eterno, descoberto por gênios que não podem errar. É uma visão distorcida, já que a ciência muda ao longo do tempo, às vezes de um modo radical, sendo na verdade um conhecimento provisório, construído por seres humanos falíveis e que, por seu esforço coletivo, tendem a aperfeiçoar esse conhecimento, sem nunca possuir a garantia de poder chegar a algo definitivo.
         A reação contra o poder da ciência pode levar a defender uma posição de que todo conhecimento não passa de mera opinião, que todas as ideias são equivalentes e que não há motivo algum para aceitar as concepções científicas. Isso também não é verdade! Essa é outra visão distorcida da ciência!
         Quanto às relações entre ciência e sociedade, há também posições extremas: ou se pensa que a ciência é algo totalmente “puro”, independente do lugar e da época em que se desenvolve; ou, no outro extremo, supõe-se que é um mero discurso ideológico da sociedade onde se desenvolveu, sem nenhum valor objetivo.  Não passam de outras visões distorcidas de ciência! O estudo histórico mostra que nenhuma das duas posições é uma boa descrição da realidade. A ciência não se desenvolve em uma torre de cristal, mas sim em um contexto social, econômico, cultural e material bem determinado. Por outro lado, não é possível explicar os conhecimentos científicos apenas a partir desse contexto: é necessário levar também em conta os fatores internos da ciência, tais como os argumentos teóricos e as evidências experimentais disponíveis em cada momento, em cada época.
         Uma visão mais adequada e bem fundamentada da natureza das ciências, de sua dinâmica, de seus aspectos sociais, de suas interações com seu contexto, certamente trará consequências importantes. O trabalho científico deve ser respeitado mas não venerado, nem desprezado.
         Os meios de comunicação de massa em vez de ajudar a corrigir a visão popular equivocada a respeito de como se dá o desenvolvimento científico contribui para reforçar e perpetuar mitos daninhos a respeito dos “grandes gênios”, sobre as descobertas repentinas que ocorrem por acaso, e outros erros graves a respeito da natureza da ciência. Os equívocos se propagam através das revistas científicas populares, dos jornais, da televisão, da internet, penetram nas salas de aula, são aprendidas e repetidas por outras pessoas. Muitos autores de livros científicos, mesmo com as melhores das intenções, introduzem informações completamente errôneas sobre história da ciência. Não se tem como transformar em “àgua com açúcar” a complexidade histórica real.
         Tais erros passam a visão distorcida que a ciência é feita por grandes personagens; que a ciência é constituída a partir de eventos ou episódios marcantes, que são as “descobertas” realizadas pelos cientistas; que cada alteração da ciência ocorre em uma data determinada e que cada fato independe dos demais e pode ser estudado isoladamente.
         É claro que tais pressupostos são insustentáveis. Quem conhece realmente a história da ciência sabe que as alterações históricas são lentas, graduais, difusas; são um trabalho coletivo e não individual ou instantâneo dos “grandes gênios”, é difícil ou impossível caracterizar em uma só frase ou em poucas palavras o que foi uma determinada mudança científica; e há estreita correlação entre acontecimentos de muitos tipos diferentes, o que torna difícil isolar uma “descoberta” e descrevê-la fora de seu contexto.
         Muitas vezes, até mesmo professores universitários não entendem a natureza da ciência. Ainda há uma crença no método indutivista da investigação científica. Geralmente, professores que não possuem conhecimento o suficiente sobre história e filosofia da ciência transmitem uma visão distorcida do funcionamento da ciência para seus estudantes.
         O estudo cuidadoso da história da ciência pode ensinar muito sobre a natureza da ciência, mas isso só ocorrerá se forem utilizados exemplos históricos reais e não as lendas sem fundamento que são repetidas por quem nunca fez pesquisa histórica.
         Outra falha no ensino de ciências é o uso de argumentos de autoridade para tentar obrigar à aceitação dos conhecimentos científicos. Invocar uma pretensa certeza científica baseada em um nome famoso é um modo de impor crenças e de deixar de lado os aspectos fundamentais da própria natureza da ciência.
         Há uma importante distinção entre conhecimento científico e crença científica. Ter conhecimento científico sobre um assunto significa conhecer os resultados científicos, conhecendo de fato como esse conhecimento é justificado e fundamentado. Crença científica, por outro lado, corresponde ao conhecimento apenas dos resultados científicos e sua aceitação baseada em crença na autoridade do professor ou do “cientista”. A fé científica é simplesmente um tipo moderno de superstição. É muito mais fácil adquiri-la que o conhecimento científico, mas não tem o mesmo valor.
         Há apenas um caminho para se adquirir conhecimento científico. É necessário estudar o contexto científico, as bases experimentais, as várias alternativas possíveis da época, e a dinâmica do processo de descoberta. Apenas desse modo é possível aprender como uma teoria foi justificada e porque foi aceita. Ao mesmo tempo, aprende-se muito sobre a natureza da ciência.
     
         Agora faço a pergunta se seriam essas visões distorcidas de ciência responsáveis por discursos contra a ciência que infelizmente ouvimos dentro das próprias Universidades?
         É bem verdade que vieram das Ciências Humanas várias das maiores e mais importantes tolices contrárias à ciência das últimas décadas: compendiadas em algo vago chamado de “pós-modernismo”, que foi profundamente criticado pelos físicos Alan Sockal e Jean Bricmont. São perspectivas extremamente relativistas que afirmam ser a ciência uma forma de conhecimento tão válida como outra qualquer; como a religião, a mitologia e o senso comum. Além dessa postura, há as acusações usuais injustificadas de que a ciência é “branca”, é “eurocêntrica”, é “burguesa”, é “masculina”, é “cartesiana”, é “positivista”, é “reducionista”, é “mecanicista”, é “racionalista” - e por aí vai. Essas afirmações, muitas delas entronizadas como vanguardistas e apoiadas por governos e periódicos, cumpriram o importante desserviço de desacreditar perante os “cientistas naturais” os “cientistas humanos”. No caso dos “pós-modernos”, muitos dos seus problemas advém do uso inadequado de conceitos das Ciências Naturais nas Ciências Humanas, ou seja, de um falso diálogo entre estas.
         Se as Ciências Humanas possuem algum problema quanto ao método científico tradicional, devem buscar seus próprios argumentos para questionar este, não se valendo de conceitos da Física Moderna. Nem a Mecânica Quântica nem a Teoria da Relatividade invalidam o método científico tradicional.  
           
   
TOMAZ PASSAMANI é

Membro da Academia de Livres Pensadores da Paraíba (ALPP)

sábado, 25 de maio de 2013

Parabenização pelo Projeto “MP Pela Educação”


João Pessoa, 24 de Maio de 2013

Exma. Sra. Ana Raquel Brito de Lira Beltrão;

Gostaria de parabenizar a Sra. Promotora e o Ministério Público
Estadual pelo Projeto “MP Pela Educação”. Faço votos que na próxima
reavaliação do Planejamento Estratégico do MPPB, o Projeto “MP Pela
Educação” continue e seja ampliado. Acompanho à distância as ações do
MPPB em Defesa do Direito à Educação. Desejo que em algum momento, no
futuro, o MPPB seja devidamente reconhecidos por suas ações.

Como sabemos em recente pesquisa encomendada à consultoria britânica
Economist Intelligence Unit (EIU), pela Pearson, empresa que fabrica
sistemas de aprendizado e vende seus produtos a vários países, o
Brasil ficou em penúltimo lugar em um ranking global de educação que
comparou 40 países levando em conta notas de testes e qualidade de
professores, dentre outros fatores. Isso coloca a educação brasileira
como um dos piores sistemas educacionais do mundo.

Maiores informações sobre a pesquisa pode ser vista na matéria
jornalística “Brasil fica em penúltimo lugar em ranking global de
qualidade de educação”, divulgada em 27 de Novembro de 2012 no
endereço eletrônico

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/11/121127_educacao_ranking_eiu_jp.shtml

Existem várias razões para o Brasil se encontrar nessa situação, mas
como a própria pesquisa (citada) aponta nos falta uma verdadeira
“cultura” nacional de aprendizado, que valorize professores, escolas e
a educação como um todo. E o que faz com que não tenhamos essa cultura
pró-educação?

Depois de 06 (seis) anos como Professor Efetivo da Rede Estadual de
Ensino penso que isso esteja profundamente vinculado com a nossa
altíssima concentração de renda, ou seja, com o nosso modelo
econômico.

No ano de 2012, um grupo da UFPB veio a minha escola, a EEEFM Olivina
Olívia Carneiro da Cunha, fazer um censo sobre o perfil
sócio-econômico de todo o nosso alunado. O grupo da UFPB verificou que
a maior parte dos pais dos alunos do Olivina Olívia tinham apenas o
ensino fundamental completo e/ou incompleto. Também quase todos eram
de famílias de baixíssima renda. O Olivina Olívia se encontra no
Centro Urbanístico Educacional, no Centro de João Pessoa. Se o censo
tivesse sido feito em uma escola de periferia os resultados
provavelmente teriam sido muito piores.

Nas últimas décadas houve realmente uma enorme expansão no número de
matrículas na rede pública de ensino. Famílias de baixa renda que
anteriormente não matriculavam os seus filhos agora matriculam. Mas
talvez valha a pena se fazer a questão de porque esses pais estão
matriculando os seus filhos ou qual é a valoração da educação formal
para esses pais?

Ao longo desses meus 06 (seis) anos como Professor da Rede Estadual de
Ensino sempre fiz um esforço enorme para tentar convencer em vão aos
meus alunos que Educação é algo importante. Nunca tive êxito.

Após 06 (seis) anos de constante reflexão talvez tenha encontrado uma
pista da razão de nunca ter tido qualquer êxito. A conclusão a que
cheguei é que os meus alunos vivem na cultura do imediatismo, cultura
aprendida muito provavelmente com os seus pais. E essa cultura do
imediatismo é tão forte que chega a impedir uma comunicação
significativa e real entre professor e aluno. É como se professor e
aluno vivessem em universos completamente diferentes!

Muito provavelmente para os pais dos meus alunos qualquer coisa que
não seja relacionada a sobrevivência e a garantia do almoço de hoje e
de amanhã é inútil, irrelevante e desprezível. E educação formal é um
investimento de longuíssimo prazo. E aparentemente os alunos
incorporam essa visão dos próprios pais.

Nesse contexto podemos conjecturar as razões que levam os pais a
matricularem os seus filhos na escola mesmo se não a consideram
importante. Uma razão pode ser o medo de serem processados por
abandono intelectual. Outra seria verem a escola como uma “creche para
adolescentes” aonde esperam que seus filhos sejam vigiados e guardados
por um período do dia. E outra seria apenas para os filhos conseguirem
um diploma de nível médio para se aventurarem no mercado de trabalho
independente de aprenderem ou não algo em troca do diploma.

Esse desprezo da maioria dos alunos pela Educação, muito provavelmente
aprendida com os próprios pais, tem como consequências desde o baixo
aproveitamento escolar até mesmo a indisciplina e violência escolar. A
causa da indisciplina escolar não pode ser simplificada unicamente em
a escola “não ser atrativa” para o aluno. A grande maioria dos meus
alunos se sentem presos na escola. Eles preferiam estar em qualquer
outro lugar menos ali. Os professores hoje em dia, infelizmente, se
tornaram os “carcereiros” dos alunos que não queriam estar ali desde o
início.

Não estou de forma nenhuma através desta mensagem tentando fazer
qualquer tipo de denúncia ou tentando fazer qualquer análise
preconceituosa ou moralista. Estou tentando apenas fazer uma análise
criteriosa a partir das minhas experiências docentes. Quero se
possível, mesmo que em ínfima parte, dar minha humilde contribuição
para a visualização mais ampla do problema educacional brasileiro.

Como resolver essa situação? A solução definitiva para todos os nossos
problemas educacionais, policiais, sociais e políticos precisaria
passar por uma mudança completa na nossa ordem econômica vigente. Uma
nova economia justa e solidária, que não permitisse a absurda
concentração de renda que ocorre, deixando muito pouco para as classes
desfavorecidas.

Isso seria um passo necessário para tirar essas famílias menos
favorecidas da cultura do imediatismo para que elas começassem a
enxergar a Educação como uma real oportunidade de crescimento pessoal
e profissional. É necessário sim a visão sistêmica que todos os nossos
problemas estão inter-relacionados.

O MPPB, através de seu Planejamento Estratégico, e da atuação conjunta
de seus muitos órgãos, pode sim contribuir para uma sociedade mais
justa e que impeça os abusos do grande capital.

Mas enquanto essa nova ordem econômica não vêm o que pode ser feito de
paliativo? Na medida do possível tento convencer os meus colegas
professores que devem ver o Ministério Público e os Conselhos
Tutelares como aliados. Existe muitas vezes uma desconfiança por parte
de professores quanto ao MP e aos Conselhos Tutelares por várias
razões. Como vivemos em um país em que o professor não é respeitado
muitos professores, no passado, já passaram por situações em que a
própria Secretaria de Educação e políticos usurparam a autoridade e a
dignidade do professor. Existe o medo de muitos professores que o MP e
os Conselhos Tutelares possam fazer o mesmo. Sempre defendo e acredito
na boa vontade dos Promotores e dos Conselheiros Tutelares.

Entretanto, talvez, por mais boa vontade que os Promotores e
Conselheiros tenham pode faltar um maior conhecimento da realidade da
escola pública brasileira nos tempos de hoje. A realidade da escola
pública do passado não pode ser comparada com a realidade da escola
pública de hoje. A realidade da escola privada de hoje não pode ser
comparada com a realidade da escola pública de hoje.

Em Agosto de 2011, a Revista EDUCAÇÃO, lançou a matéria “A educação
nos tribunais”, que trata do belo trabalho de defesa do direito à
educação feito pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário, mas
alerta que “há casos em que a pena do juiz não se afina com a
experiência pedagógica”. A íntegra da matéria pode ser vista no
endereço eletrônico

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/152/artigo234687-1.asp

Considero necessário e salutar que haja uma aproximação e um diálogo
entre os professores (de escola pública) e os Promotores e
Conselheiros Tutelares. Mas para isso os professores precisam se
desarmar de sua desconfiança e o MP e os Conselhos Tutelares escutem
esses professores. O corporativismo da classe docente, que realmente
existe, não surgiu pelos professores serem “preguiçosos” ou qualquer
coisa do tipo, mas sim como uma forma de defesa contra o “massacre”
coletivo executado pela sociedade.

Eu falo aos meus colegas professores que o Ministério Público e os
Conselhos Tutelares têm um poder que as escolas não têm que é o de
intimar (autuar) os pais. Muitas escolas (nem todas) costumam convidar
os pais para reuniões, mas sempre são poucos pais que se fazem
presentes e entre os faltosos sempre estão os pais dos alunos mais
problemáticos. As direções das escolas poderiam começar a criar o
hábito de encaminharem ao Ministério Público e aos Conselhos Tutelares
a relação de pais faltosos nas reuniões escolares já que não se é
possível, por parte da escola, os obrigarmos a irem até a escola.
Seria o caso desses pais explicarem pessoalmente aos Promotores e
Conselheiros Tutelares porque não acham a educação formal dos seus
filhos algo importante. Seria também uma oportunidade do Ministério
Público e dos Conselhos Tutelares conhecerem melhor essa realidade da
cultura do imediatismo, que tem profunda motivação econômica.

Outra alternativa paliativa para se tentar conter a indisciplina,
vandalismo, roubos, furtos e violência nas escolas poderia ser a
implementação da Guarda Militar da Reserva em algumas escolas públicas
estaduais. A Guarda Militar da Reserva da Polícia Militar da Paraíba
foi criada pela Lei Estadual Nº 9.353, de 12 de Abril de 2011, tendo
sido publicada no Diário Oficial do Estado em 15/04/2011. A Patrulha
Escolar deve ser mantida, mas em vez de se somente contar com rondas
esporádicas realizadas pela Patrulha Escolar, a Guarda Militar da
Reserva estaria presente 24 horas na escola. As escolas municipais de
João Pessoa poderiam se utilizar da Guarda Municipal.

Polícia não é solução para nada! Assim como redução da maioridade
penal não é solução para a delinquência juvenil. Como dito antes todos
os nossos problemas estão inter-relacionados. Somente uma nova ordem
econômica diminuiria drasticamente todos os nossos problemas. Enquanto
isso todo o resto é apenas paliativo! Só que a maioria das pessoas em
vez de se aperceberem disso e reivindicarem uma nova ordem econômica
apelam por um estado mais policial estando dispostas até mesmo a
fazerem concessões de algumas liberdades individuais. O problema da
criminalidade e da delinquência juvenil não são consequência de uma
natureza humana imutável, mas sim resultantes de uma perversa ordem
econômica.

No mais faço votos de um futuro melhor para a educação brasileira.

Tomaz Passamani
Professor Efetivo de Física da SEE-PB
EEEFM Olivina Olívia Carneiro da Cunha