Educação para uma Nova Sociedade
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Pátria educadora?
Em entrevista à Revista InfoMoney, o senador Cristovam Buarque
(PDT-DF) critica as políticas de educação do PT, explica por que votou
em Aécio e cogita uma "nova crise" que pode atingir as ações do setor
de ensino na Bovespa
Por Leonardo Pires Uller e Thiago Salomão
Quando o assunto é educação, o engenheiro pernambucano Cristovam
Buarque, de 70 anos, é quase uma unanimidade. Ex-reitor da
Universidade de Brasília (1985-1989), ex-governador do Distrito
Federal (1995-1998), ex-ministro da Educação (governo Lula), criador
do "Bolsa-Escola" (um subsídio, considerado inovador na época de sua
criação, aos pais que mantiverem os filhos matriculados) e senador
(PDT-DF), Buarque sempre teve como principal bandeira algo desprezado
pelos demais políticos, o ensino básico, que demora a apresentar
resultados e não traz votos diretos, já que crianças não têm direito a
escolher seus representantes nas eleições. Em entrevista à Revista
InfoMoney, Buarque atribui à "genialidade de Lula e do PT" a
descoberta de que investir no ensino superior rende muito mais votos
do que acabar com o analfabetismo e confessa que adoraria concorrer
novamente à presidência, embora ele mesmo considere remota essa
possibilidade - em 2006, teve apenas 2,5 milhões de votos. Durante a
conversa, o ex-petista também afirmou que o PT perdeu "seu vigor
transformador", explicou o voto em Aécio Neves na última eleição,
sinalizou o que sua aliada Marina Silva pretende fazer daqui em diante
e também avaliou as recentes desvalorizações das empresas do setor de
educação na Bovespa. Leia a seguir os principais trechos:
Revista InfoMoney O senhor deixou o PT há uma década. O que mudou
dentro do partido de lá pra cá? O PT perdeu sua identidade?
Cristovam Buarque O PT perdeu o vigor transformador que tinha como
partido de esquerda. Se perdeu o vigor transformador, perdeu a
identidade. Além disso, perdeu também a identidade do ponto de vista
do compromisso ético. Antes o PT prometia que ia acabar com a
corrupção, mas hoje ele diz apenas que os outros partidos também são
corruptos. O PT antes era um partido honesto.
IM Como o sr. acha que o partido poderia contornar o problema?
CB Eu não acredito que o PT vá recuperar sua identidade dentro dos
salões dos palácios. Esse vício com as benesses quebra a possibilidade
de dar um salto. O Lula tem dito que o PT precisa mudar. A Marta
[Suplicy] disse que o PT precisa mudar. O que eles não disseram ainda
é que essa mudança exige um tempo na oposição. Aquela frase da Marta,
que disse que "ou o PT muda ou acaba", eu complementaria dizendo que
"não muda ficando no governo". É preciso retomar o sonho. E não digo
apenas do PT, digo também do partido ao qual estou filiado, o PDT, que
está acostumado a sempre ter um ministério, e do PCdoB. São partidos
que tinham mensagens progressistas e que precisam sair do governo para
recuperarem suas identidades.
IM Nesse cenário de perda de identidade de partidos de esquerda, como
o sr. avalia a atuação do PSDB e do Aécio Neves na última eleição?
CB Eu votei no Aécio Neves. Não porque ele tem a cara do que eu desejo
como estadista e que mudaria o Brasil. Podia até ser, não é
impossível. Mas eu votei no Aécio por três razões: primeiro porque
mudaria os quadros dirigentes, os que estão aí estão viciados após 12
anos; segundo porque ele teria mais condições de enfrentar a crise
econômica, até porque ele não seria responsabilizado por ela. A Dilma
vai ter mais dificuldades. E terceiro porque ao colocar PDT, PCdoB e
PT na oposição ele estaria fazendo um favor à retomada dos sonhos na
política.
IM O sr. é um dos grandes aliados de Marina Silva. A Rede vai sair do
papel? O sr. pode entrar no partido dela quando isso acontecer?
CB Primeiramente eu não tenho plano de ir para a Rede. Sair de um
partido é uma coisa muito dolorosa. Eu não estou nem um pouco
satisfeito com o partido em que estou, mas não penso em sair para
outros. Se de repente ficar insuportável, acho que vou terminar saindo
da política, já que no Brasil não se pode sair candidato sem partido,
coisa que eu defendo. Sobre minha relação com a Marina Silva, ela é
mais de respeito e amizade do que de correligionária. No último Natal,
fui visitá-la e conversamos muito, mas em nenhum momento se falou em
mudança de partido. Desejo muito que o partido dela seja criado. Se
tudo der certo, acredito que ela saia candidata de novo em 2018, ainda
que não tenha ouvido isso dela. E não vejo a Rede como alternativa de
mudança. Para mim, a alternativa hoje é a unidade transpartidária das
pessoas que têm uma proposta em comum para o novo Brasil.
IM O que o sr. achou das mudanças promovidas pelo governo federal no
Fies (programa do governo de financiamento para o ensino superior),
que contribuem para a melhoria das contas públicas, mas que tanto
estrago causaram às empresas de educação na Bovespa?
CB Eu me preocupo muito com as contas públicas. Há anos tenho alertado
que o governo perdeu o controle sobre as despesas. Sou contra essa
redução de gastos do programa de maneira linear, como se tudo pudesse
ser cortado igualmente. Não fiz as contas ainda, mas o impacto das
medidas do Fies parece insignificante do ponto de vista das contas
públicas e devastador do ponto de vista da rentabilidade das empresas
educacionais.
IM O sr. não acha que pode ter havido excesso de euforia dos
investidores em relação às empresas de educação da Bovespa?
CB Foi excesso de euforia, fruto de especulação. Quando a gente
analisa o potencial da TIR (taxa interna de retorno) dessas
universidades, vê que não justificava a valorização na Bolsa. A
valorização foi maior do que a expectativa de rentabilidade. Era
esperado que um dia haveria queda nas ações, salvo se a gente fizesse
o que qualquer negócio deve fazer para ter rentabilidade: aumentar a
demanda sobre o produto, que no caso é o ensino superior. E aumentar a
demanda sobre esse produto esbarra hoje na educação de base
deficiente, tanto na quantidade, já que apenas 40% dos jovens terminam
o ensino médio, quanto na qualidade, já que metade dos que terminam o
ensino médio não têm a menor possibilidade de entrar numa universidade
e fazer um curso.
IM A crise do setor de educação vai além do Fies?
CB A primeira crise é essa provocada pelo governo com o Fies. A
segunda crise virá com o esgotamento da demanda, quando não tiver mais
aluno para entrar na universidade. Já estamos perto do ponto em que
quase todo mundo que conclui o ensino médio e tem condições de ir para
universidade faz isso. A demanda está inflada porque muitos jovens que
concluíram o ensino médio há alguns anos estão ingressando agora no
ensino superior. Mas quando esse estoque for atendido, as universidade
vão sentir que vão começar a perder. Como é a necessidade que faz a
consciência, espero que o próprio setor de educação comece a cobrar
melhorias no ensino médio e na educação básica.
IM Qual solução o sr. adotaria para resolver a deficiência da educação básica?
CB Minha proposta é que, se o Brasil quer ser comparado com Finlândia,
Coreia do Sul e grandes países, temos que criar um novo sistema
educacional de base enquanto o atual vai sendo esvaziado ao longo do
tempo. Minha proposta é implantar esse novo sistema por cidade. A
ideia é pagar muito bem o professor, mas tem que ter um regime de
trabalho diferenciado. Tem que acabar com a estabilidade plena do
professor e passar a avaliá-lo. É preciso vincular a permanência do
professor ao resultado dele. É preciso copiar o modelo das escolas
públicas federais, que são as que possuem as melhores médias no Ideb
[Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] e no Enem [Exame
Nacional do Ensino Médio]. Essas escolas são muito melhores que as
estaduais e municipais e ganham inclusive da média das particulares. A
saída seria espalhar essas escolas por cidade, construir prédios
novos, mandar para lá professores novos, com qualificação nova e
exigências de carreira diferentes. Essa é a proposta que venho
fazendo. Se você quer saber como será o futuro de um país, basta olhar
para suas escolas no presente.
IM O sr. já apresentou suas propostas à presidente Dilma ou ao atual
ministro da Educação, Cid Gomes?
CB A presidenta Dilma não conversa. Eu tive apenas um encontro com ela
nesses anos todos. Ela ofereceu um almoço para os senadores do PDT,
PCdoB e PSB. Éramos uns dez no encontro. E antes do almoço, naquela
hora que a gente fica ali tomando um refresco, um uísque, ela falou
que estava impressionada com o desempenho das escolas militares em uma
olimpíada de matemática. Aí disse para ela: "está vendo, presidente, é
isso que a senhora tem que fazer, mais escolas federais como essas".
Aí mudou-se de assunto. Cheguei a escrever uma carta a ela em 2011,
apresentando a proposta e mostrando quanto custaria. Nunca tive uma
resposta. Com o Cid eu não estive ainda, mas já pedi uma audiência a
ele, até para cumprimentá-lo. O assunto pode aparecer.
IM Por que o governo não demonstra com o ensino básico o mesmo
interesse que teve em impulsionar o ensino superior?
CB Porque o PT e o Lula com a sua genialidade perceberam que o que dá
voto é investir no ensino superior. Erradicar o analfabetismo não dá
voto e pode até tirar se o cara passar a ler muito [risos]. Por isso
que depois de 12 anos de governo do PT o analfabetismo não caiu quase
nada. Teve ano em que o número [de analfabetos] subiu 200 mil em
relação ao ano anterior. Então não vejo sensibilidade do governo
federal para mudar a educação de base. Sobre a educação superior,
temos que reconhecer que aumentou o número de alunos e que aumentou o
desejo de entrar nas universidades, algo que há alguns anos não
existia no Brasil. Isso vem graças aos governos de FHC, Lula e Dilma,
que foram bons nesse ponto. A qualidade é que não está boa, mas pelo
menos criou o clima de que universidade é uma coisa possível.
IM No Distrito Federal, seu reduto político, foi eleito para
governador seu aliado Rodrigo Rollemberg, do PSB. Essas mudanças que o
senhor propõe para a educação não poderiam ser feitas no governo do
DF?
CB Sem dúvida alguma poderia, mas até aqui eu não estou vendo no
Rodrigo Rollemberg a vontade para fazer isso. Quando chegou a hora de
ter essa conversa, que era no momento da escolha do secretário de
Educação do DF, eu não fui ouvido.
IM E o setor privado, não pode ajudar a melhorar a educação de base?
CB Eu tenho tentado passar para as empresas de ensino superior a ideia
de que seria bom para a rentabilidade delas virarem "lobistas" ou
"advogadas" da educação de base. Mas é difícil por uma coisa que a
gente já falou aqui: o imediatismo de quem está na Bolsa.
IM O sr. gostaria de sair candidato à presidência novamente?
CB Eu aceitaria, gostaria e estou preparado para sair de novo. Mas não
está na minha cabeça porque eu acho que é uma hipótese muito remota.
Não acho que o PDT queira, e, como já disse, não penso em mudar de
partido. Eu só poderia ser candidato se o PDT quisesse.
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
Resenha do filme “A Teoria de Tudo”
Por Tomaz Passamani
No próximo dia 29 de Janeiro de 2015 será o
lançamento nos cinemas nacionais do filme “A Teoria de Tudo” que conta a
história e relacionamento de Stephen Hawking e Jane Hawking. O filme é
inspirado no livro de Jane Hawking.
O filme mostra como Stephen Hawking e Jane Wide
(futura esposa de Stephen) se conheceram, a descoberta da sua esclerose lateral
amiotrófica, a luta de ambos contra a doença e a ascensão de Stephen no mundo
da física.
O filme é antes de tudo uma história de superação e
abnegação. Abnegação de Jane por Stephen e de superação de Stephen que mesmo
preso em um corpo disfuncional conseguiu elevar a sua mente a responder os mais
profundos mistérios do Universo.
Em uma das cenas finais do filme lhe é perguntado se
apesar de ser ateu ele tinha uma filosofia de vida que o sustentasse e ele diz
que enquanto houver vida há esperança e que não deve haver limites para o
esforço humano.
A história de vida de Stephen Hawking é muito
inspiradora. Ele conseguiu se tornar o físico vivo mais famoso da atualidade;
não apenas por sua luta contra a esclerose lateral amiotrófica, mas pela
relevância de todos os seus trabalhos acadêmicos e científicos. Em 08 de
Janeiro de 2015 completou 73 anos de idade tendo até participado de uma
simulação de gravidade zero.
Ele começou a ficar mais conhecido entre os
não-físicos pelo seu livro de divulgação científica “Uma Breve História do
Tempo” publicado em 1988. Ele se diverte muito participando de breves cenas em
seriados de televisão como “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração” e “The Big
Bang Theory”. A doença não conseguiu lhe tirar o bom senso de humor.
Vou torcer que os cinemas brasileiros e a imprensa
especializada deem a devida atenção ao filme. O filme é uma oportunidade mesmo que
romanceada para mostrar aos mais jovens o que é o mundo da ciência e da
Academia.
O Brasil, de norte ao sul, nunca passou por uma tão profunda
crise moral e de valores aonde palavras como mérito, esforço e persistência são
tratadas como palavrões e jogadas na lata de lixo. A grande e maior parte da
sociedade brasileira está vivendo o conformismo, o comodismo, a mediocridade,
ou o hedonismo (o culto ao prazer). Esses parecem ser os novos valores do povo
brasileiro.
Nesse contexto sócio-político-cultural não seria de
se estranhar que um filme que fale sobre abnegação e superação seja posto de
lado por não ser um produto que atraia o público, que seja comercial, que dê
lucros.
Aos poucos que ainda valorizam uma ética de
princípios e virtudes recomendo fortemente o filme. Aos poucos que ainda
valorizam tal ética o filme pode ser um estímulo a mais para continuarmos na
luta para educar moralmente o povo brasileiro.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
VISÕES DISTORCIDAS DA CIÊNCIA E DISCURSOS ANTI-CIÊNCIA
Palestra
proferida por Tomaz Passamani no 22º Encontro da Nova
Consciência na cidade de Campina Grande, Paraíba, Brasil.
Membro da Academia de Livres Pensadores da Paraíba (ALPP)
Com frequência uma mesma palavra pode ter
significados diferentes para pessoas diferentes. Isso gera problemas de
comunicação e desentendimentos. Acredito que esse também seja o caso da palavra
“ciência”. Acredito que a imensa maioria ou quase totalidade das pessoas têm
uma visão distorcida ou ingênua do que é ciência. Acredito que muitas pessoas
usam a palavra “ciência” quando não deveriam usar. Acredito que, infelizmente,
muitos acadêmicos, doutores e intelectuais não possuem uma visão completa,
inteira e imparcial do que é ciência; mas sim possuem uma visão fragmentada,
incompleta e parcial. Eu mesmo com certeza tenho uma visão de ciência que não é
completa! Precisarei refletir muito ainda sobre a ciência e sobre o processo de
se fazer ciência para um dia ter uma visão mais completa e imparcial do que é
ciência!
A
minha visão de ciência é muito similar ao próprio método científico! Para mim a
ciência é a melhor ferramenta já inventada para entendermos como o mundo
funciona! A ciência é uma empreitada colaborativa que atravessa as gerações!
Para mim a ciência é um modo de pensar, uma forma de questionar ceticamente a
natureza! A ciência substitui o preconceito particular pela evidência
publicamente verificável.
Vamos
explanar sobre algumas distorções comuns associadas a ideia de ciência e
questionar se essas visões distorcidas poderiam fazer com que pessoas
produzissem discursos contra a “ciência”.
Uma
das visões distorcidas de ciência é considerar ciência como sendo um corpo de
conhecimentos imutável e produzido apenas na mente de pessoas geniais. O ensino
tradicional de ciências e os meios de comunicação de massa são fontes de visões
distorcidas da ciência.
O
ensino tradicional de ciências enfatiza sempre o produto final da atividade
científica, apresentando-o como dogmático, imutável e desprovido de suas
determinações históricas, político-econômicas, ideológicas e socioculturais.
Realçam
sempre um único processo de produção científica, o método empírico-indutivo, em
detrimento da apresentação da diversidade de métodos de produção do
conhecimento científico. Introduz ou reforça equívocos, estereótipos e
mitificações com respeito às concepções de ciência e tecnologia.
A
apresentação da evolução histórica das ciências naturais permite ao estudante
perceber que as ciências estão em constante evolução, e que o conhecimento é
construído gradativamente.
Geralmente,
nos livros didáticos, o conhecimento científico é apresentado como algo pronto,
acabado, no qual o cientista surge como uma figura estereotipada, de cabelos e
jalecos brancos, com respostas para todos os problemas, sem dúvidas ou
dificuldades no seu trabalho.
Entretanto,
ao lançar um olhar sobre a história da ciência, pode-se perceber o quanto a
compreensão da história das ideias pode auxiliar a entendê-las e como a
construção do conhecimento é complexa, sem ser livre das mais diferentes interferências.
A
Ciência não tem respostas definitivas para tudo! A principal característica
desta é a possibilidade de ser questionada e de se transformar!
As
ciências naturais não devem ser vistas como as ciências dos conceitos e
equações já estabelecidas e, por isso, consideradas verdades absolutas.
Quem
afirma que a Ciência deseja e conspira para ser uma verdade absoluta tem
grandes chances de ter uma visão distorcida de ciência!
A
história das ciências nos apresenta uma visão a respeito da natureza da
pesquisa e do desenvolvimento científico que não costumamos encontrar no estudo
didático dos resultados científicos. Os livros científicos didáticos enfatizam
os resultados aos quais a ciência chegou mas não costumam apresentar alguns
outros aspectos da ciência. De que modo as teorias e os conceitos se
desenvolvem? Como os cientistas trabalham?
Quais
as ideias que não aceitamos hoje em dia e que eram aceitas no passado? Quais as
relações entre ciência, filosofia, religião e cultura? Qual a relação entre o
desenvolvimento do pensamento científico e outros desenvolvimentos históricos
que ocorreram na mesma época?
A
história das ciências não pode substituir o ensino comum das ciências, mas pode
complementá-lo de várias formas: o estudo adequado de alguns episódios
históricos permite compreender as inter-relações entre ciência, tecnologia e
sociedade, mostrando que a ciência não é uma caixa isolada de todas as outras
mas sim faz parte de um desenvolvimento histórico, de uma cultura, de um mundo humano,
sofrendo influências e influenciando por sua vez muitos aspectos da sociedade.
Todos conhecem os nomes de Lavoisier, Newton, Galileu, Darwin. Mas o que estava
acontecendo no mundo quando eles desenvolveram suas pesquisas? Não existiu
nenhuma relação entre o que eles fizeram e aquilo que estava acontecendo em
volta deles? É claro que existiu! Mas não costumamos estudar isso, o que
resulta na visão distorcida de que a ciência é algo atemporal, que surge de
forma mágica e que está à parte de outras atividades humanas.
O
estudo adequado de alguns episódios históricos permite perceber o processo
coletivo e gradativo de construção do conhecimento, permitindo formar uma visão
mais concreta e correta da real natureza da ciência, seus procedimentos e suas
limitações. A ciência não brota pronta, na cabeça de “grandes gênios”. Muitas
vezes, as teorias que aceitamos hoje foram propostas de forma confusa, com
muitas falhas, sem possuir uma base observável e experimental. Apenas
gradualmente as ideias vão sendo aperfeiçoadas, através de debates e críticas,
que muitas vezes transformam totalmente os conceitos iniciais. Costumamos dizer
que nossa visão do universo, heliocêntrica, foi
proposta por Copérnico no século XVI. No entanto, existe pouca
semelhança entre aquilo que aceitamos hoje em dia e aquilo que Copérnico
propôs. Também não pensamos como Galileu, por exemplo. A teoria da evolução
biológica que aprendemos hoje em dia não é a teoria de Darwin. A aritmética que
estudamos atualmente não é a aritmética desenvolvida pelos pitagóricos. Nossa
química não é a química de Lavoisier. Nosso conhecimento foi sendo formado
lentamente, através de contribuições de muitas pessoas sobre as quais nem
ouvimos falar e que tiveram importante papel na discussão e aprimoramento das
ideias dos cientistas mais famosos, cujos nomes conhecemos.
Os
estudantes de todos os níveis, seus professores e o público em geral possuem
uma grande variedade de concepções ingênuas, mal fundamentadas e, afinal,
falsas sobre a natureza das ciências e sua relação com a sociedade. Alguns
concebem a ciência como a “verdade”, “aquilo que foi provado”, algo imutável,
eterno, descoberto por gênios que não podem errar. É uma visão distorcida, já
que a ciência muda ao longo do tempo, às vezes de um modo radical, sendo na
verdade um conhecimento provisório, construído por seres humanos falíveis e
que, por seu esforço coletivo, tendem a aperfeiçoar esse conhecimento, sem
nunca possuir a garantia de poder chegar a algo definitivo.
A
reação contra o poder da ciência pode levar a defender uma posição de que todo
conhecimento não passa de mera opinião, que todas as ideias são equivalentes e
que não há motivo algum para aceitar as concepções científicas. Isso também não
é verdade! Essa é outra visão distorcida da ciência!
Quanto
às relações entre ciência e sociedade, há também posições extremas: ou se pensa
que a ciência é algo totalmente “puro”, independente do lugar e da época em que
se desenvolve; ou, no outro extremo, supõe-se que é um mero discurso ideológico
da sociedade onde se desenvolveu, sem nenhum valor objetivo. Não passam de outras visões distorcidas de
ciência! O estudo histórico mostra que nenhuma das duas posições é uma boa
descrição da realidade. A ciência não se desenvolve em uma torre de cristal,
mas sim em um contexto social, econômico, cultural e material bem determinado.
Por outro lado, não é possível explicar os conhecimentos científicos apenas a
partir desse contexto: é necessário levar também em conta os fatores internos
da ciência, tais como os argumentos teóricos e as evidências experimentais
disponíveis em cada momento, em cada época.
Uma
visão mais adequada e bem fundamentada da natureza das ciências, de sua
dinâmica, de seus aspectos sociais, de suas interações com seu contexto, certamente
trará consequências importantes. O trabalho científico deve ser respeitado mas
não venerado, nem desprezado.
Os
meios de comunicação de massa em vez de ajudar a corrigir a visão popular
equivocada a respeito de como se dá o desenvolvimento científico contribui para
reforçar e perpetuar mitos daninhos a respeito dos “grandes gênios”, sobre as
descobertas repentinas que ocorrem por acaso, e outros erros graves a respeito
da natureza da ciência. Os equívocos se propagam através das revistas científicas
populares, dos jornais, da televisão, da internet, penetram nas salas de aula,
são aprendidas e repetidas por outras pessoas. Muitos autores de livros
científicos, mesmo com as melhores das intenções, introduzem informações
completamente errôneas sobre história da ciência. Não se tem como transformar
em “àgua com açúcar” a complexidade histórica real.
Tais
erros passam a visão distorcida que a ciência é feita por grandes personagens;
que a ciência é constituída a partir de eventos ou episódios marcantes, que são
as “descobertas” realizadas pelos cientistas; que cada alteração da ciência
ocorre em uma data determinada e que cada fato independe dos demais e pode ser
estudado isoladamente.
É
claro que tais pressupostos são insustentáveis. Quem conhece realmente a
história da ciência sabe que as alterações históricas são lentas, graduais,
difusas; são um trabalho coletivo e não individual ou instantâneo dos “grandes
gênios”, é difícil ou impossível caracterizar em uma só frase ou em poucas
palavras o que foi uma determinada mudança científica; e há estreita correlação
entre acontecimentos de muitos tipos diferentes, o que torna difícil isolar uma
“descoberta” e descrevê-la fora de seu contexto.
Muitas
vezes, até mesmo professores universitários não entendem a natureza da ciência.
Ainda há uma crença no método indutivista da investigação científica.
Geralmente, professores que não possuem conhecimento o suficiente sobre
história e filosofia da ciência transmitem uma visão distorcida do
funcionamento da ciência para seus estudantes.
O
estudo cuidadoso da história da ciência pode ensinar muito sobre a natureza da
ciência, mas isso só ocorrerá se forem utilizados exemplos históricos reais e
não as lendas sem fundamento que são repetidas por quem nunca fez pesquisa
histórica.
Outra
falha no ensino de ciências é o uso de argumentos de autoridade para tentar
obrigar à aceitação dos conhecimentos científicos. Invocar uma pretensa certeza
científica baseada em um nome famoso é um modo de impor crenças e de deixar de
lado os aspectos fundamentais da própria natureza da ciência.
Há
uma importante distinção entre conhecimento científico e crença científica. Ter
conhecimento científico sobre um assunto significa conhecer os resultados
científicos, conhecendo de fato como esse conhecimento é justificado e
fundamentado. Crença científica, por outro lado, corresponde ao conhecimento
apenas dos resultados científicos e sua aceitação baseada em crença na
autoridade do professor ou do “cientista”. A fé científica é simplesmente um
tipo moderno de superstição. É muito mais fácil adquiri-la que o conhecimento
científico, mas não tem o mesmo valor.
Há
apenas um caminho para se adquirir conhecimento científico. É necessário
estudar o contexto científico, as bases experimentais, as várias alternativas
possíveis da época, e a dinâmica do processo de descoberta. Apenas desse modo é
possível aprender como uma teoria foi justificada e porque foi aceita. Ao mesmo
tempo, aprende-se muito sobre a natureza da ciência.
Agora
faço a pergunta se seriam essas visões distorcidas de ciência responsáveis por
discursos contra a ciência que infelizmente ouvimos dentro das próprias
Universidades?
É
bem verdade que vieram das Ciências Humanas várias das maiores e mais
importantes tolices contrárias à ciência das últimas décadas: compendiadas em
algo vago chamado de “pós-modernismo”, que foi profundamente criticado pelos
físicos Alan Sockal e Jean Bricmont. São perspectivas extremamente relativistas
que afirmam ser a ciência uma forma de conhecimento tão válida como outra
qualquer; como a religião, a mitologia e o senso comum. Além dessa postura, há
as acusações usuais injustificadas de que a ciência é “branca”, é
“eurocêntrica”, é “burguesa”, é “masculina”, é “cartesiana”, é “positivista”, é
“reducionista”, é “mecanicista”, é “racionalista” - e por aí vai. Essas
afirmações, muitas delas entronizadas como vanguardistas e apoiadas por
governos e periódicos, cumpriram o importante desserviço de desacreditar
perante os “cientistas naturais” os “cientistas humanos”. No caso dos
“pós-modernos”, muitos dos seus problemas advém do uso inadequado de conceitos
das Ciências Naturais nas Ciências Humanas, ou seja, de um falso diálogo entre
estas.
Se
as Ciências Humanas possuem algum problema quanto ao método científico
tradicional, devem buscar seus próprios argumentos para questionar este, não se
valendo de conceitos da Física Moderna. Nem a Mecânica Quântica nem a Teoria da
Relatividade invalidam o método científico tradicional.
TOMAZ PASSAMANI é
Membro da Academia de Livres Pensadores da Paraíba (ALPP)
sábado, 25 de maio de 2013
Parabenização pelo Projeto “MP Pela Educação”
João Pessoa, 24 de Maio de 2013
Exma. Sra. Ana Raquel Brito de Lira Beltrão;
Gostaria de parabenizar a Sra. Promotora e o Ministério Público
Estadual pelo Projeto “MP Pela Educação”. Faço votos que na próxima
reavaliação do Planejamento Estratégico do MPPB, o Projeto “MP Pela
Educação” continue e seja ampliado. Acompanho à distância as ações do
MPPB em Defesa do Direito à Educação. Desejo que em algum momento, no
futuro, o MPPB seja devidamente reconhecidos por suas ações.
Como sabemos em recente pesquisa encomendada à consultoria britânica
Economist Intelligence Unit (EIU), pela Pearson, empresa que fabrica
sistemas de aprendizado e vende seus produtos a vários países, o
Brasil ficou em penúltimo lugar em um ranking global de educação que
comparou 40 países levando em conta notas de testes e qualidade de
professores, dentre outros fatores. Isso coloca a educação brasileira
como um dos piores sistemas educacionais do mundo.
Maiores informações sobre a pesquisa pode ser vista na matéria
jornalística “Brasil fica em penúltimo lugar em ranking global de
qualidade de educação”, divulgada em 27 de Novembro de 2012 no
endereço eletrônico
http://www.bbc.co.uk/
Existem várias razões para o Brasil se encontrar nessa situação, mas
como a própria pesquisa (citada) aponta nos falta uma verdadeira
“cultura” nacional de aprendizado, que valorize professores, escolas e
a educação como um todo. E o que faz com que não tenhamos essa cultura
pró-educação?
Depois de 06 (seis) anos como Professor Efetivo da Rede Estadual de
Ensino penso que isso esteja profundamente vinculado com a nossa
altíssima concentração de renda, ou seja, com o nosso modelo
econômico.
No ano de 2012, um grupo da UFPB veio a minha escola, a EEEFM Olivina
Olívia Carneiro da Cunha, fazer um censo sobre o perfil
sócio-econômico de todo o nosso alunado. O grupo da UFPB verificou que
a maior parte dos pais dos alunos do Olivina Olívia tinham apenas o
ensino fundamental completo e/ou incompleto. Também quase todos eram
de famílias de baixíssima renda. O Olivina Olívia se encontra no
Centro Urbanístico Educacional, no Centro de João Pessoa. Se o censo
tivesse sido feito em uma escola de periferia os resultados
provavelmente teriam sido muito piores.
Nas últimas décadas houve realmente uma enorme expansão no número de
matrículas na rede pública de ensino. Famílias de baixa renda que
anteriormente não matriculavam os seus filhos agora matriculam. Mas
talvez valha a pena se fazer a questão de porque esses pais estão
matriculando os seus filhos ou qual é a valoração da educação formal
para esses pais?
Ao longo desses meus 06 (seis) anos como Professor da Rede Estadual de
Ensino sempre fiz um esforço enorme para tentar convencer em vão aos
meus alunos que Educação é algo importante. Nunca tive êxito.
Após 06 (seis) anos de constante reflexão talvez tenha encontrado uma
pista da razão de nunca ter tido qualquer êxito. A conclusão a que
cheguei é que os meus alunos vivem na cultura do imediatismo, cultura
aprendida muito provavelmente com os seus pais. E essa cultura do
imediatismo é tão forte que chega a impedir uma comunicação
significativa e real entre professor e aluno. É como se professor e
aluno vivessem em universos completamente diferentes!
Muito provavelmente para os pais dos meus alunos qualquer coisa que
não seja relacionada a sobrevivência e a garantia do almoço de hoje e
de amanhã é inútil, irrelevante e desprezível. E educação formal é um
investimento de longuíssimo prazo. E aparentemente os alunos
incorporam essa visão dos próprios pais.
Nesse contexto podemos conjecturar as razões que levam os pais a
matricularem os seus filhos na escola mesmo se não a consideram
importante. Uma razão pode ser o medo de serem processados por
abandono intelectual. Outra seria verem a escola como uma “creche para
adolescentes” aonde esperam que seus filhos sejam vigiados e guardados
por um período do dia. E outra seria apenas para os filhos conseguirem
um diploma de nível médio para se aventurarem no mercado de trabalho
independente de aprenderem ou não algo em troca do diploma.
Esse desprezo da maioria dos alunos pela Educação, muito provavelmente
aprendida com os próprios pais, tem como consequências desde o baixo
aproveitamento escolar até mesmo a indisciplina e violência escolar. A
causa da indisciplina escolar não pode ser simplificada unicamente em
a escola “não ser atrativa” para o aluno. A grande maioria dos meus
alunos se sentem presos na escola. Eles preferiam estar em qualquer
outro lugar menos ali. Os professores hoje em dia, infelizmente, se
tornaram os “carcereiros” dos alunos que não queriam estar ali desde o
início.
Não estou de forma nenhuma através desta mensagem tentando fazer
qualquer tipo de denúncia ou tentando fazer qualquer análise
preconceituosa ou moralista. Estou tentando apenas fazer uma análise
criteriosa a partir das minhas experiências docentes. Quero se
possível, mesmo que em ínfima parte, dar minha humilde contribuição
para a visualização mais ampla do problema educacional brasileiro.
Como resolver essa situação? A solução definitiva para todos os nossos
problemas educacionais, policiais, sociais e políticos precisaria
passar por uma mudança completa na nossa ordem econômica vigente. Uma
nova economia justa e solidária, que não permitisse a absurda
concentração de renda que ocorre, deixando muito pouco para as classes
desfavorecidas.
Isso seria um passo necessário para tirar essas famílias menos
favorecidas da cultura do imediatismo para que elas começassem a
enxergar a Educação como uma real oportunidade de crescimento pessoal
e profissional. É necessário sim a visão sistêmica que todos os nossos
problemas estão inter-relacionados.
O MPPB, através de seu Planejamento Estratégico, e da atuação conjunta
de seus muitos órgãos, pode sim contribuir para uma sociedade mais
justa e que impeça os abusos do grande capital.
Mas enquanto essa nova ordem econômica não vêm o que pode ser feito de
paliativo? Na medida do possível tento convencer os meus colegas
professores que devem ver o Ministério Público e os Conselhos
Tutelares como aliados. Existe muitas vezes uma desconfiança por parte
de professores quanto ao MP e aos Conselhos Tutelares por várias
razões. Como vivemos em um país em que o professor não é respeitado
muitos professores, no passado, já passaram por situações em que a
própria Secretaria de Educação e políticos usurparam a autoridade e a
dignidade do professor. Existe o medo de muitos professores que o MP e
os Conselhos Tutelares possam fazer o mesmo. Sempre defendo e acredito
na boa vontade dos Promotores e dos Conselheiros Tutelares.
Entretanto, talvez, por mais boa vontade que os Promotores e
Conselheiros tenham pode faltar um maior conhecimento da realidade da
escola pública brasileira nos tempos de hoje. A realidade da escola
pública do passado não pode ser comparada com a realidade da escola
pública de hoje. A realidade da escola privada de hoje não pode ser
comparada com a realidade da escola pública de hoje.
Em Agosto de 2011, a Revista EDUCAÇÃO, lançou a matéria “A educação
nos tribunais”, que trata do belo trabalho de defesa do direito à
educação feito pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário, mas
alerta que “há casos em que a pena do juiz não se afina com a
experiência pedagógica”. A íntegra da matéria pode ser vista no
endereço eletrônico
http://revistaeducacao.uol.
Considero necessário e salutar que haja uma aproximação e um diálogo
entre os professores (de escola pública) e os Promotores e
Conselheiros Tutelares. Mas para isso os professores precisam se
desarmar de sua desconfiança e o MP e os Conselhos Tutelares escutem
esses professores. O corporativismo da classe docente, que realmente
existe, não surgiu pelos professores serem “preguiçosos” ou qualquer
coisa do tipo, mas sim como uma forma de defesa contra o “massacre”
coletivo executado pela sociedade.
Eu falo aos meus colegas professores que o Ministério Público e os
Conselhos Tutelares têm um poder que as escolas não têm que é o de
intimar (autuar) os pais. Muitas escolas (nem todas) costumam convidar
os pais para reuniões, mas sempre são poucos pais que se fazem
presentes e entre os faltosos sempre estão os pais dos alunos mais
problemáticos. As direções das escolas poderiam começar a criar o
hábito de encaminharem ao Ministério Público e aos Conselhos Tutelares
a relação de pais faltosos nas reuniões escolares já que não se é
possível, por parte da escola, os obrigarmos a irem até a escola.
Seria o caso desses pais explicarem pessoalmente aos Promotores e
Conselheiros Tutelares porque não acham a educação formal dos seus
filhos algo importante. Seria também uma oportunidade do Ministério
Público e dos Conselhos Tutelares conhecerem melhor essa realidade da
cultura do imediatismo, que tem profunda motivação econômica.
Outra alternativa paliativa para se tentar conter a indisciplina,
vandalismo, roubos, furtos e violência nas escolas poderia ser a
implementação da Guarda Militar da Reserva em algumas escolas públicas
estaduais. A Guarda Militar da Reserva da Polícia Militar da Paraíba
foi criada pela Lei Estadual Nº 9.353, de 12 de Abril de 2011, tendo
sido publicada no Diário Oficial do Estado em 15/04/2011. A Patrulha
Escolar deve ser mantida, mas em vez de se somente contar com rondas
esporádicas realizadas pela Patrulha Escolar, a Guarda Militar da
Reserva estaria presente 24 horas na escola. As escolas municipais de
João Pessoa poderiam se utilizar da Guarda Municipal.
Polícia não é solução para nada! Assim como redução da maioridade
penal não é solução para a delinquência juvenil. Como dito antes todos
os nossos problemas estão inter-relacionados. Somente uma nova ordem
econômica diminuiria drasticamente todos os nossos problemas. Enquanto
isso todo o resto é apenas paliativo! Só que a maioria das pessoas em
vez de se aperceberem disso e reivindicarem uma nova ordem econômica
apelam por um estado mais policial estando dispostas até mesmo a
fazerem concessões de algumas liberdades individuais. O problema da
criminalidade e da delinquência juvenil não são consequência de uma
natureza humana imutável, mas sim resultantes de uma perversa ordem
econômica.
No mais faço votos de um futuro melhor para a educação brasileira.
Tomaz Passamani
Professor Efetivo de Física da SEE-PB
EEEFM Olivina Olívia Carneiro da Cunha
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Declaração de Peter Joseph – 13/04/2012
http://blog.movimentozeitgeist.com.br/2012/04/17/declaracao-de-peter-joseph-13042012/
[DECLARAÇÃO DE PETER JOSEPH - 13/04/2012]
Amigos – algumas atualizações pessoais:
1) Beyond the Pale:
Depois de revisar o script de “Beyond the Pale” e considerando o seu potencial e contexto, há uma boa chance de eu não estar incluindo esse novo projeto como uma extensão da série de filmes Zeitgeist.
Por quê? Bem, pois ele simplesmente não parece funcionar artisticamente no contexto de uma outra sequência e tendo regressado à edição de toda a série recentemente, acho que o final do Moving Forward foi poderoso o bastante para representar um gesto de fechamento para a mudança, juntamente com uma simetria particular contida que pode ser confundida em forma se estendida mais uma vez com outro filme.
Se eu fechar a série de filmes Zeitgeist como uma “Trilogia”, é por uma questão puramente cosmética.
Eu tenho uma quantidade enorme de informações e de conteúdo para expressar da mesma forma em meu quarto filme, independentemente de seu nome, provavelmente será o início de uma nova série com base nos mesmos temas – mas artisticamente muito diferente.
2) “Culture in Decline”
A nova série online está em desenvolvimento, já com alguns esboços. Para aqueles que não estão familiarizados, é um conceito do tipo “George Carlin encontra Carl Sagan”.
É chamado de “Culture in Decline” (Cultura em declínio). Um site e outras coisas virão em breve, mas se alguém quiser acompanhar as coisas através de Facebook ou Twitter, aqui está:
https://twitter.com/#!/ CultureInDeclin
http://www.facebook.com/pages/ Culture-in-Decline/ 402591899752535
Eu pretendo ter o primeiro episódio pronto até Junho ou Julho. Este será um projeto divertido e um desafio social, com entrevistas ao público e cheio de vinhetas.
3) Retirada do nome de porta-voz do MZ
Como dito no meu programa de rádio antes, nunca vou parar meu trabalho para ajudar a criar uma mudança neste mundo, e enquanto meu trabalho com o MZ nunca vai parar em comunicação global / administração / patrocínio, os riscos que tive de suportar e que continuo a sofrer como sendo um “porta-voz” obrigou-me a perceber que é extremamente perigoso para mim e minha família dado o destaque que eu tenho.
Não só cria falsa aparência de “liderança” no MZ, mas também reduz o interesse que os outros sejam pró-ativos, se eduquem e eduquem outros. Além disso, tenho que tratar da minha vida pessoal. Hoje, estou quebrado, cansado e constantemente assediado. Uma das razões que me mudei de Nova York para Los Angeles foi porque uma série de tipos estranhos apareciam no meu apartamento e andavam em volta de mim em lugares públicos.
É interessante como alguns parecem imaginar que sou rico, tipo um cara feito Michael Moore que não tem obrigações de fora para ser este “ativista” épico e pode pagar guarda-costas e afins … não. O fato é que tenho pessoas que dependem mim neste sistema monetário e minha segurança financeira e pessoal tem estado no limbo profundo e tem ficado cada vez pior. Ou seja, não posso dar ao luxo de ser famoso e, pessoalmente, não posso suportar a atenção que recebo.
Novamente, eu não estou deixando nada. Apenas vou parar de palestrar e dar entrevistas enquanto outros aparecem mais. Isso não é novidade. Antes da separação com o PV eu já anunciava deixar a função de porta-voz pelas mesmas razões. Infelizmente, o PV confundiu algumas coisas e tive que aparecer ainda mais para garantir a integridade do MZ. Estamos novamente no caminho certo agora então posso avançar naquilo que é mais apropriado e confortável pra mim.
Como com qualquer coisa, é importante que todos nós encontramos nossas zonas de conforto e talento em nosso trabalho para criar um mundo melhor. A escolha de ativismo de todos é específico para os seus interesses / felicidade e eu estive fora do meu por cerca de 4 anos!
Apenas uma nota passiva para consideração. O MZ é o seu movimento, então sugiro que você comece a possuí-lo.
Mais em breve.
[DECLARAÇÃO DE PETER JOSEPH - 13/04/2012]
Amigos – algumas atualizações pessoais:
1) Beyond the Pale:
Depois de revisar o script de “Beyond the Pale” e considerando o seu potencial e contexto, há uma boa chance de eu não estar incluindo esse novo projeto como uma extensão da série de filmes Zeitgeist.
Por quê? Bem, pois ele simplesmente não parece funcionar artisticamente no contexto de uma outra sequência e tendo regressado à edição de toda a série recentemente, acho que o final do Moving Forward foi poderoso o bastante para representar um gesto de fechamento para a mudança, juntamente com uma simetria particular contida que pode ser confundida em forma se estendida mais uma vez com outro filme.
Se eu fechar a série de filmes Zeitgeist como uma “Trilogia”, é por uma questão puramente cosmética.

2) “Culture in Decline”
A nova série online está em desenvolvimento, já com alguns esboços. Para aqueles que não estão familiarizados, é um conceito do tipo “George Carlin encontra Carl Sagan”.

https://twitter.com/#!/
http://www.facebook.com/pages/
Eu pretendo ter o primeiro episódio pronto até Junho ou Julho. Este será um projeto divertido e um desafio social, com entrevistas ao público e cheio de vinhetas.
3) Retirada do nome de porta-voz do MZ
Como dito no meu programa de rádio antes, nunca vou parar meu trabalho para ajudar a criar uma mudança neste mundo, e enquanto meu trabalho com o MZ nunca vai parar em comunicação global / administração / patrocínio, os riscos que tive de suportar e que continuo a sofrer como sendo um “porta-voz” obrigou-me a perceber que é extremamente perigoso para mim e minha família dado o destaque que eu tenho.
Não só cria falsa aparência de “liderança” no MZ, mas também reduz o interesse que os outros sejam pró-ativos, se eduquem e eduquem outros. Além disso, tenho que tratar da minha vida pessoal. Hoje, estou quebrado, cansado e constantemente assediado. Uma das razões que me mudei de Nova York para Los Angeles foi porque uma série de tipos estranhos apareciam no meu apartamento e andavam em volta de mim em lugares públicos.
É interessante como alguns parecem imaginar que sou rico, tipo um cara feito Michael Moore que não tem obrigações de fora para ser este “ativista” épico e pode pagar guarda-costas e afins … não. O fato é que tenho pessoas que dependem mim neste sistema monetário e minha segurança financeira e pessoal tem estado no limbo profundo e tem ficado cada vez pior. Ou seja, não posso dar ao luxo de ser famoso e, pessoalmente, não posso suportar a atenção que recebo.
Novamente, eu não estou deixando nada. Apenas vou parar de palestrar e dar entrevistas enquanto outros aparecem mais. Isso não é novidade. Antes da separação com o PV eu já anunciava deixar a função de porta-voz pelas mesmas razões. Infelizmente, o PV confundiu algumas coisas e tive que aparecer ainda mais para garantir a integridade do MZ. Estamos novamente no caminho certo agora então posso avançar naquilo que é mais apropriado e confortável pra mim.
Como com qualquer coisa, é importante que todos nós encontramos nossas zonas de conforto e talento em nosso trabalho para criar um mundo melhor. A escolha de ativismo de todos é específico para os seus interesses / felicidade e eu estive fora do meu por cerca de 4 anos!

Mais em breve.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=rede-capitalista-domina-mundo&id=010150111022&ebol=sim
Da New Scientist - 22/10/2011
Além das ideologias
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça.
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."
Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
The network of global corporate control
Stefania Vitali, James B. Glattfelder, Stefano Battiston
arXiv
19 Sep 2011
http://arxiv.org/abs/1107.5728
Da New Scientist - 22/10/2011
Além das ideologias
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça.
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."
Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
- Barclays plc
- Capital Group Companies Inc
- FMR Corporation
- AXA
- State Street Corporation
- JP Morgan Chase & Co
- Legal & General Group plc
- Vanguard Group Inc
- UBS AG
- Merrill Lynch & Co Inc
- Wellington Management Co LLP
- Deutsche Bank AG
- Franklin Resources Inc
- Credit Suisse Group
- Walton Enterprises LLC
- Bank of New York Mellon Corp
- Natixis
- Goldman Sachs Group Inc
- T Rowe Price Group Inc
- Legg Mason Inc
- Morgan Stanley
- Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
- Northern Trust Corporation
- Société Générale
- Bank of America Corporation
- Lloyds TSB Group plc
- Invesco plc
- Allianz SE 29. TIAA
- Old Mutual Public Limited Company
- Aviva plc
- Schroders plc
- Dodge & Cox
- Lehman Brothers Holdings Inc*
- Sun Life Financial Inc
- Standard Life plc
- CNCE
- Nomura Holdings Inc
- The Depository Trust Company
- Massachusetts Mutual Life Insurance
- ING Groep NV
- Brandes Investment Partners LP
- Unicredito Italiano SPA
- Deposit Insurance Corporation of Japan
- Vereniging Aegon
- BNP Paribas
- Affiliated Managers Group Inc
- Resona Holdings Inc
- Capital Group International Inc
- China Petrochemical Group Company
The network of global corporate control
Stefania Vitali, James B. Glattfelder, Stefano Battiston
arXiv
19 Sep 2011
http://arxiv.org/abs/1107.5728
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
O software vai comer seu emprego
http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2011/09/15/o-software-vai-comer-seu-emprego.jhtm
15/09/2011 - 10h48 | do BOL
Com a globalização e as novas tecnologias, o mundo está mudando muito mais rápido do que as leis e as estruturas do antigo regime.
Aqui no Brasil, temos uma legislação trabalhista ultrapassada e custosa, que o Congresso cego recusa-se a reformar, mas isso não impediu que parcela enorme da força de trabalho hoje atue à revelia das leis da Era Vargas e sob novos arranjos, mais ágeis e leves. E as mudanças mal começaram.
Em poucos anos, mais rápido do que esperamos, as relações trabalhistas estarão ainda mais diferentes. Se você estiver do lado certo da nova força de trabalho, um profissional inovador e original, com contribuição única, essas transformações serão muito boas para você.
A revista "Economist" fez um dossiê como sempre presunçoso sobre o futuro do emprego no mundo.
Segundo a revista, o planeta terá neste ano 3,1 bilhões de pessoas empregadas, o maior número da história. Mas o número de desempregados chega a 205 milhões, um número muito maior do que poucos anos atrás.
Uma das conclusões dos estudiosos é que a tecnologia começa a comer empregos de forma consistente, como, aliás, sempre aconteceu na história humana. Mas agora é mais agudo, abrangente e transformador. O emprego commodity, quando se faz aquilo que qualquer um pode fazer, poderá cada vez mais ser feito por máquinas e robôs.
Ou, como disse título de artigo recente no wsj.com de Mark Andressen, um dos maiores gurus e investidores do Vale do Silício, fundador do Netscape: "O software está comendo o mundo".
"Seis anos depois da revolução do computador, quatro décadas depois da invenção do microprocessador e duas décadas depois do surgimento da internet moderna, toda a tecnologia necessária para transformar indústrias através de software finalmente funciona bem e pode ser distribuída em escala global", escreveu Andressen.
Isso pode ser ótimo para a indústria de software, mas as transformações significam a substituição de empregos commodities por softwares e máquinas, como acontece já nos bancos e nas montadoras de veículos: ou seja, muita gente vai para a rua e os que ficam serão mais educados, especializados e remunerados.
Nos EUA, a grave crise econômica está sendo a justificativa para que empresas percam o temor social que tinham de trocar homens por máquinas (e softwares). Em outros setores, as novas tecnologias simplesmente aniquilaram antigos modelos de negócios.
Veja o que aconteceu com as lojas de disco e grandes livrarias americanas, que viveram seu apogeu até o varejo online matá-las de forma fulminante, levando junto milhares de empregos, embora hoje se consuma mais música e livros no país.
Sempre houve muita especulação filosófica e literária sobre como seria o momento (ao qual chegamos) em que máquinas (e softwares) conseguissem fazer o trabalho dos homens. O suíço Jean Piaget (1896-1980), por exemplo, previa uma "sociedade do ócio", onde o homem teria muito tempo para lazer e iluminações e menos ou nenhum tempo dedicado ao trabalho.
Piaget pensou isso numa época em que utopias sobre a prevalência da solidariedade e da justiça social nas relações humanas ainda iludiam os pensadores. Para o bem e para o mal, a competição, não a harmonia, parece ser nosso estado natural.
A transformação do emprego é a transformação da atividade mais importante de nossas vidas, o que geralmente determina o que somos e o que temos.
Nos países do hemisfério Norte, em crise econômica e mais plugados às novas tecnologias, as transformações estão muito mais agudas.
No Brasil, essas transformações, como outras, estão sendo amortizadas pelo nosso ciclo virtuoso de crescimento, essa névoa da prosperidade que pode esconder perigos importantes.
A competição pelo emprego é cada vez mais global. E ganhará mais vagas quem tiver mais educação e mais flexibilidade no trabalho, o que não é o caso do trabalhador brasileiro.
No nível pessoal, não se iluda que dará para enrolar no trabalho das 9h às 18s de segunda a sexta fazendo coisas que qualquer um pode fazer. O software vai comer esse emprego.
O Google tomou uma decisão primeiro criticada de liberar 20% do tempo de trabalho de seus funcionários para eles se dedicarem a projetos pessoais e inovadores ligados à empresa, mas fora de sua rotina habitual. Deu certo e já está sendo adotada por outras empresas inovadoras.
Mais do que nunca, será preciso mostrar o que só você pode fazer, usar sua individualidade como seu maior atributo. Apesar dos riscos e das perdas inevitáveis, isso é uma coisa boa. Ser criativo e inventivo tornou-se obrigatório. Como dizia o visionário slogan da visionária Apple no final dos anos 1990: "Think different".
15/09/2011 - 10h48 | do BOL
SÉRGIO MALBERGIER
Entre as enormes transformações deste século tecnológico e globalizado, a do emprego talvez seja a mais abrangente.Com a globalização e as novas tecnologias, o mundo está mudando muito mais rápido do que as leis e as estruturas do antigo regime.
Aqui no Brasil, temos uma legislação trabalhista ultrapassada e custosa, que o Congresso cego recusa-se a reformar, mas isso não impediu que parcela enorme da força de trabalho hoje atue à revelia das leis da Era Vargas e sob novos arranjos, mais ágeis e leves. E as mudanças mal começaram.
Em poucos anos, mais rápido do que esperamos, as relações trabalhistas estarão ainda mais diferentes. Se você estiver do lado certo da nova força de trabalho, um profissional inovador e original, com contribuição única, essas transformações serão muito boas para você.
A revista "Economist" fez um dossiê como sempre presunçoso sobre o futuro do emprego no mundo.
Segundo a revista, o planeta terá neste ano 3,1 bilhões de pessoas empregadas, o maior número da história. Mas o número de desempregados chega a 205 milhões, um número muito maior do que poucos anos atrás.
Uma das conclusões dos estudiosos é que a tecnologia começa a comer empregos de forma consistente, como, aliás, sempre aconteceu na história humana. Mas agora é mais agudo, abrangente e transformador. O emprego commodity, quando se faz aquilo que qualquer um pode fazer, poderá cada vez mais ser feito por máquinas e robôs.
Ou, como disse título de artigo recente no wsj.com de Mark Andressen, um dos maiores gurus e investidores do Vale do Silício, fundador do Netscape: "O software está comendo o mundo".
"Seis anos depois da revolução do computador, quatro décadas depois da invenção do microprocessador e duas décadas depois do surgimento da internet moderna, toda a tecnologia necessária para transformar indústrias através de software finalmente funciona bem e pode ser distribuída em escala global", escreveu Andressen.
Isso pode ser ótimo para a indústria de software, mas as transformações significam a substituição de empregos commodities por softwares e máquinas, como acontece já nos bancos e nas montadoras de veículos: ou seja, muita gente vai para a rua e os que ficam serão mais educados, especializados e remunerados.
Nos EUA, a grave crise econômica está sendo a justificativa para que empresas percam o temor social que tinham de trocar homens por máquinas (e softwares). Em outros setores, as novas tecnologias simplesmente aniquilaram antigos modelos de negócios.
Veja o que aconteceu com as lojas de disco e grandes livrarias americanas, que viveram seu apogeu até o varejo online matá-las de forma fulminante, levando junto milhares de empregos, embora hoje se consuma mais música e livros no país.
Sempre houve muita especulação filosófica e literária sobre como seria o momento (ao qual chegamos) em que máquinas (e softwares) conseguissem fazer o trabalho dos homens. O suíço Jean Piaget (1896-1980), por exemplo, previa uma "sociedade do ócio", onde o homem teria muito tempo para lazer e iluminações e menos ou nenhum tempo dedicado ao trabalho.
Piaget pensou isso numa época em que utopias sobre a prevalência da solidariedade e da justiça social nas relações humanas ainda iludiam os pensadores. Para o bem e para o mal, a competição, não a harmonia, parece ser nosso estado natural.
A transformação do emprego é a transformação da atividade mais importante de nossas vidas, o que geralmente determina o que somos e o que temos.
Nos países do hemisfério Norte, em crise econômica e mais plugados às novas tecnologias, as transformações estão muito mais agudas.
No Brasil, essas transformações, como outras, estão sendo amortizadas pelo nosso ciclo virtuoso de crescimento, essa névoa da prosperidade que pode esconder perigos importantes.
A competição pelo emprego é cada vez mais global. E ganhará mais vagas quem tiver mais educação e mais flexibilidade no trabalho, o que não é o caso do trabalhador brasileiro.
No nível pessoal, não se iluda que dará para enrolar no trabalho das 9h às 18s de segunda a sexta fazendo coisas que qualquer um pode fazer. O software vai comer esse emprego.
O Google tomou uma decisão primeiro criticada de liberar 20% do tempo de trabalho de seus funcionários para eles se dedicarem a projetos pessoais e inovadores ligados à empresa, mas fora de sua rotina habitual. Deu certo e já está sendo adotada por outras empresas inovadoras.
Mais do que nunca, será preciso mostrar o que só você pode fazer, usar sua individualidade como seu maior atributo. Apesar dos riscos e das perdas inevitáveis, isso é uma coisa boa. Ser criativo e inventivo tornou-se obrigatório. Como dizia o visionário slogan da visionária Apple no final dos anos 1990: "Think different".
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